de Finibus Bonorum et Malorum



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Bagunça na USP

A USP está passando por aquela época do ano em que os revolucionários de plantão resolvem sair das suas tocas e atrapalhar a vida dos outros.

Estamos passando por uma crise grave no país inteiro. A USP não é diferente, ainda mais considerando a gestão inconsequente e irresponsável a que ela vem sendo submetida nos últimos anos.

Por isso, são justificadas e compreensíveis as reivindicações que os movimentos em atividade na USP reivindicam. Pessoalmente eu sou a favor de muitas delas, especialmente considerando que as universidades estaduais paulistas foram instigadas a se expandirem sem que houvesse aumento do repasse do governo do estado para elas. A saber, o percentual do ICMS continua sendo o mesmo. Não é à toa que o comprometimento só com a folha de pagamento passa dos 100% (pelo menos na USP). Para se expandir, é necessário contratar funcionários e professores, adquirir terrenos, construir prédios, instalar toda a infra-estrutura… por algum motivo o governador parece acreditar que as estaduais dispõem desse tipo de dinheiro, e se preocupou somente em colher os “louros” de ter expandido as universidades paulistas.

Quem, em sã consciência, expandiria qualquer operação sem uma fonte adicional de verba?

É bom lembrar também que a USP passou por um plano de demissão voluntária que diminuiu o número de funcionários da universidade, o que deixou vários laboratórios numa situação difícil, pois o número de funcionários já não dá conta da demanda… alguns laboratórios ainda conseguem “compartilhar” técnicos, mas mesmo assim a situação é difícil. Outro problema é que vários dos que foram embora levaram consigo a sua experiência, e não há quem os substitua na função que exerciam por simples falta de treinamento.

Isto posto, é absurda a demanda de 13% de aumento. Sabendo que a universidade está em sérias dificuldades, os proponentes desse reajuste querem, a julgar por esse número, piorar ainda mais a situação.

Mais ainda, e aparentemente é isso que se mostram completamente incapazes de compreender, as suas “táticas” de manifestação alienam e afastam a maioria das pessoas que lhes daria suporte. Ao bloquear as entradas da Universidade, promover “cadeiraços” e criar transtornos através de piquetes, não chegam nem perto de afetar aqueles que têm algum poder de decisão sobre os assuntos que estão na pauta; pelo contrário, prejudicam aqueles que fazem da USP a melhor universidade do país, impactando o desempenho acadêmico e profissional de milhares de pessoas. Não gosto nem de imaginar quantas teses de doutorado isso custará.

Por último, mas não menos importante, é a atitude ridícula e ignorante dos alunos. Através de uma “assembléia” nada representativa, alegando que essa é uma forma “soberana” de manifestação dos estudantes, justificam qualquer absurdo que lhes venha à mente (usando táticas dignas do Congresso Nacional), sem pensar em quaisquer consequências. A mera definição de “greve de estudantes” é, por si só, absurda. Uma greve existe como um direito do trabalhador, uma maneira de ele se manifestar, criando um prejuízo a seu “patrão”, como forma de forçá-lo a negociar. Existe uma relação clara entre quem se manifesta através da greve e quem é prejudicado por ela. No caso da “greve” que os alunos alegam estar manifestando, essa relação não existe. O principal prejudicado é o próprio aluno, não somente porque o professor pode ignorar a greve (com as conseqüências que isso acarreta, como marcação de faltas e provas perdidas), mas principalmente porque o aluno, ao deixar de freqüentar a aula, deixa de ter a oportunidade de adquirir conhecimentos que lhe serão úteis em fases posteriores do curso e em sua vida profissional. Em outras palavras, o aluno prejudica a si mesmo, numa atitude infantil e mimada, esperando que os outros atendam às suas demandas. O pior aspecto disso é que, como se isso não bastasse, ele ainda crê ter o direito de forçar a sua opinião sobre as outras pessoas, agindo de forma unilateral, truculenta e completamente intolerante para que todos ajam de acordo com o que ele pensa. Quem não concorda e tenta exercer seu direito é hostilizado, ameaçado e atormentado à exaustão. A parte irônica disso tudo é que essas são justamente as pessoas que concordam com as reivindicações, mas são afastadas da manifestação por causa dessas atitudes.

Apenas depois que o estrago já está feito, quando vem a resposta em forma de provas aplicadas, faltas marcadas e outras atitudes por parte da instituição, o manifestante alega estar sendo perseguido, grita que está sendo oprimido e clama por diálogo. É a criança birrenta que prende a respiração porque os pais não querem lhe dar o que quer, e só depois da birra tenta argumentar. Só que, depois da birra, o estrago já está feito.

 


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