Uma série de fatos me chamou a atenção nos últimos dias.
O primeiro deles, no fundo, não é mais que mera confirmação do meu desprezo pelo povo brasileiro. Essa afirmação a princípio é misantrópica, e tem tendência a incitar protestos inflamados contra mim.
Mas, no fim das contas, eu acho que a coisa é bem assim mesmo. Nunca fui muito fã de política, mas ultimamente a mera menção a determinados assuntos me é nauseante. Nem preciso comentar o sentido de desprezo que sinto pelos escrotos caras-de-pau de Brasília. Mas o que realmente me dá nojo é o fato de um bêbado imbecil de nove dedos se fingir de desentendido, de maneira a deixar claro que ou ele é completamente alienado ou é um tremendo safado. E, em qualquer das hipóteses, seria impensável que ele ainda estivesse ocupando o cargo de presidente da república. Pelo menos, num país minimamente sério e civilizado. No Brasil, é claro, ele não só continua como se nada tivesse acontecido como ainda por cima é lider nas pesquisas de intenção de voto, com chance de vencer as eleições no primeiro turno.
Na democracia, cada povo tem o governo que merece.
A verdade é essa, no fim das contas. Estou desiludido com o Brasil. Cansei do “país do futuro”, cansei da “beira da grandeza”, cansei da hipocrisia do hino nacional. Não agüento mais o ufanismo cego e irresponsável que toma conta deste país pelos motivos mais irrelevantes. As pessoas não se importam se uma corja de políticos corruptos que passou vinte anos pregando ética, igualdade social e o escambau se esbalda com o dinheiro público e sai impune, mas, quando o assunto é futebol, repentinamente se tornam patriotas de coração.
De Gaulle estava coberto de razão quando disse que o Brasil não é um país sério. Obviamente, o povo em geral sentiu-se ultrajado pela assertiva do então presidente francês (à exceção dos brasileiros sérios), mas no fundo essa sempre foi a verdade. As pessoas têm o péssimo hábito de encarar as coisas como se elas sempre fosse possível “dar um jeito”. É simplesmente absurdo: o brasileiro não está interessado realmente em resolver seus problemas, mas apenas em “dar um jeito” de se livrar deles, seja empurrando-os para debaixo do tapete, seja fazendo deles os problemas de outra pessoa.
Aliás, é curioso falar de brasileiros sérios, por motivo bem simples: a quantidade de pessoas sérias por aqui é comparável ao número de soluções analíticas da Equação de Schrödinger. Ou da de Einstein, se o leitor preferir. Agora, caso você não saiba o que são essas equações, ou se simplesmente não se importa (uma decisão não de todo descabida), isso quer dizer um número pequeno. Bastante pequeno.
Por que não vou torcer para o Brasil na Copa.
O motivo é simples. Como eu já disse logo acima, o Brasil não é um país sério, e isso, claramente, se aplica ao futebol, assim como a todas as outras áreas. No futebol, no entanto, a coisa é ainda pior, porque o Brasil é o “país do futebol”. ARGH!!! Como estou cansado dessa merda. O Brasil deixou de ser o país do futebol quando Zico perdeu aquele pênalti em 82. Talvez antes. O fato é que mesmo o futebol, que é sempre tão apreciado no Brasil, não é levado a sério. Os jogadores não são valorizados, os clubes estão sempre endividados… o melhor do futebol brasileiro não está no Brasil. Caso o leitor discorde de mim, desafio-o a descobrir quantos de nossos jogadores terminaram o segundo grau (ou ensino médio, como queira). Pare para pensar comigo, caro leitor: a tão folclórica entrevista de um jogador depois da partida, que é tão freqüentemente simulada pelos humoristas, é resultado de uma educação pobre e descuidada, que quase sempre é descontinuada ao prmeiro sinal de sucesso em campo. O resultado mais direto disso é, obviamente, a desigualdade entre os jogadores “bem-sucedidos” e o resto: os que, por seu talento, são capazes de manter um empresário, conseguem bons contratos e reconhecimento. O resto se torna uma multidão de jogadores anônimos, sem perspectiva a não ser continuar mendigando por uma vaguinha da terceira divisão…
Isso para não mencionar o estado deprimente dos clubes brasileiros. Administrados por amadores, se endividam cada vez mais, se aventuram em parcerias duvidosas, gastam o que têm e o que não têm. A incompetência da administração do futebol brasileiro é tão aviltante que, embora a seleção brasileira seja a favorita ao título, os campeonatos locais são pífios se comparados aos campeonatos europeus.
Não torço para a seleção brasileira porque ela representa tudo aquilo que o futebol no Brasil não é. Não sou nenhum especialista em futebol, mas qualquer um que conheça o mínimo a respeito – a infindade de competições das quais os clubes brasileiros têm que participar, o amadorismo com que os clubes são administrados, a baderna popularmente conhecida como CBF – sabe que o futebol brasileiro deixou de ser o que aparenta há muito tempo.
Ninguém = ninguém
Hã quem diga: “ah, mas corrupção existe em todo lugar do mundo”, ou “todo mundo age assim”. Ou, ainda, “todo país tem seus problemas”.
É verdade. Tudo verdade. Mas o Brasil não é os outros países. É pura ingenuidade pensar dessa maneira. Outros países enfrentaram a corrupção e venceram. Outros países foram capazes de se transformar completamente em uma questão de décadas. Outros países enfrentam seus problemas ao invés de tentar escondê-los. Cinqüenta anos atrás o Japão não era nada. Estava completamente arrasado pela guerra. E, no entanto, se reergueu, botou a cabeça pra cima, enfrentou seus problemas e hoje em dia é uma das maiores potências do mundo. A Coréia, no começo dos anos 80, tinha um sistema educacional vergonhoso, e a situação educacional do país era muito pior que a brasileira – hoje em dia, a situação é inversa, e o sistema coreano faz o Brasil parecer uma nação de analfabetos.
Todo mundo adora dizer o quanto o brasileiro é trabalhador, o quanto o brasileiro se dedica. Mas eu pergunto: e daí? Esse povo não se valoriza, não respeita a si mesmo. Dizer que políticos corruptos continuam no poder porque as pessoas são analfabetas ou não têm educação de qualidade é pura sandice – essas pessoas são analfabetas, não retardadas mentais. O brasileiro é que não se dá o respeito.
Resumo da ópera: ninguém leva o Brasil a sério. A começar pelos brasileiros.
Essa é a moral da história. Nem o próprio Brasil se leva a sério. Enquanto as pessoas continuarem tentando levar vantagem em tudo, enquanto imperar a “Lei do Gérson”, o Brasil será eternamente essa mistura disforme de esperanç do que poderia ter sido se as coisas fossem diferentes.
Eu tenho uma “teoria”. O brasileiro é besta do jeito que é porque nunca se fodeu. Isso mesmo. Todos adoram dizer o quanto o Brasil é um país abençoado, porque não temos furacões, terremotos, vulcões, tsunamis, guerras, e por aí vai. Pois eu acho que essa é justamente a nossa maior fraqueza. O brasileiro nunca teve que sofrer para conseguir o que queria – sempre houve alguém que fez isso por eles. O povo nunca realmente se ferrou, nunca teve que lutar com unhas e dentes pelo seu próprio futuro. Não há uma só conquista brasileira que possa ser dita que foi realmente obtida através da luta e da dedicação de seu povo. Isso criou uma cultura que sempre espera que os outros façam alguma coisa para melhorar a situação. Todo mundo reclama da falta de condições de vida, mas ninguém (exceto raríssimas exceções) realmente luta por isso – todo mundo espera que alguém faça alguma coisa. Estou cansado de ouvir as pessoas se perguntando “ninguém vai fazer nada a respeito??”. Ora, tome vergonha na cara e faça algo você mesmo!
Deixa eu mudar de assunto, vai.
Enquanto isso, eu continuo seguindo com a minha vida. A verdade é que eu adoro falar mal dos outros, mas a gente encontra nos outros aquilo que há de errado em nós mesmos. Certamente tenho, em maior ou menor grau, os defeitos que citei acima. Mas uma coisa é certa: eu não vou ficar esperando que os outros façam nada por mim. Vou viver da maneira que achar mais correta. Essa é, no fim das contas, minha maneira de contribuir com o mundo: cuidando da minha vida. Ultimamente, cheguei à conclusão de que o meu mote é: “se as pessoas cuidassem mais da própria vida, o mundo seria um lugar melhor“.
Isso não se aplica apenas o aspecto ordinário, é claro. As pessoas devem cuidar mais de seus próprios problemas, pensar mais em si mesmas – a individualidade é algo extremamente precioso, e deve ser sempre colocada em primeiro lugar (já ouviram falar dos borgs?). Eu poderia falar da maneira tradicional de cada um cuidar da própria vida, mas ultimamente no meu círculo de amizades isso é assunto mais que debatido e, honestamente, estou de saco bem cheio. Não apenas de gente imbecil que realmente acha que é o centro do universo e que basta agir naturalmente que tudo se resolve (isso está implícito), mas também (e principalmente) do fato de que muitas vezes o assunto mais interessante é a vida dos outros. Acho que estou dando voltas em torno do mesmo ponto aqui – os problemas dos outros são exatamente isso: problemas dos outros.
Eu já disse antes, e digo de novo. Não sou exceção a nada: eu também me flagro, às vezes, levando em conta o que os outros vão pensar, fazer, como vão agir, etc. Isso não deveria me importar – eu tenho mais o que fazer.
A continuação da novela.
E a novela continua! Ainda não foi regularizada a minha situação de bolsa. Talvez no mês que vem, quem sabe. O pior de tudo é que eu também não colaboro muito – recebi o pagamento de junho em cheque, mas quando fui depositar não escrevi meu nome. Resultado: o cheque voltou. E, é claro, um monte de contas – todas devidamente atrasadas – cai sobre minha cabeça.
Some-se a isso outros eventos toscos do ano e é natural chegar à conclusão de que 2006 não é pra mim.
Mas estão acontecendo coisas boas também. Sem mencionar o fato de que me formei (minha maior conquista), tem os meus amigos tendo sucesso, construindo suas vidas, enfim, cuidando de suas vidas. Isso inclui minha família também. Tenho lá minhas diferenças com eles, mas são a minha família e esse laço é mais forte que tudo. Tudo isso me deixa feliz, porque dou muito valor a isso – amigos e família são tudo.
Agora chega dessa verborragia – daqui a cinco minutos vou olhar pra tudo isso e achar uma grande bobagem – um desabafo semi-descontrolado que alguém que anda carregando coisas demais dentro de si mesmo.
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