de Finibus Bonorum et Malorum



Reclamações recentes

…e aqui estamos nós de novo.

Mais ou menos seis anos atrás, eu escrevi este post.

E, esta semana, aconteceu novamente. Continuar vivendo deixou de ser opção para alguém.

Em 2024 se completarão 25 anos desde que eu entrei no IFUSP. 25 anos de histórias e lembranças.

Vince e cinco anos presenciando o efeito terrível que o mundo acadêmico tem sobre a saúde mental das pessoas.

É bom ser justo: muitas coisas melhoraram desde 1999. Mas, ao mesmo tempo, parece que outras coisas pioraram.

Hoje em dia, existe um mínimo de conscientização sobre saúde mental. Em 99 ninguém falava sobre isso. As pessoas (e eu me incluo entre elas) faziam brincadeiras que basicamente pegavam as vulnerabilidades de alguém, as transformavam em símbolo e ridicularizavam tudo em público.

O processo de trote de ingressantes à Universidade era uma coisa monstruosa que justamente no ano que eu entrei no Bacharelado em Física atingiu o ápice quando morreu um calouro na Medicina. Desde então, surgiram medidas para conter o trote violento, ao ponto que hoje em dia virtualmente não existem mais as humilhações que aconteciam antigamente (claro que podem haver exceções, o que não falta no mundo é gente imbecil).

Além disso, muitas coisas (finalmente) deixaram de ser assunto de piada e a conscientização geral das pessoas criou um clima mais inclusivo de forma geral. Claro que ainda existe muita toxicidade, que existem pessoas escrotas e tal, mas naquela época não existia nem possibilidade de acolhimento. Não existia opção, não existia nada. Ou você era “normal”, ou era “maluco”. E as pessoas da Física em geral vestiam a carapuça de “maluco”, e isso justificava todo tipo de absurdo.

Tem coisas que estão piores, também. Antigamente era mais fácil mobilizar as pessoas, por incrível que possa parecer. Muita gente fica presa em rede social e acaba caindo na ilusão de que compartilhar postagens e “xingar no tuíter” é suficiente. Então quando uma necessirade real de mobilização, a coisa fica muito mais difícil porque a pessoa pensa “ah, eu já tô ajudando”. Antigamente não tinha rede social, então pra participar a pessoa tinha que se mexer, se deslocar até por exemplo o CEFISMA pra participar das atividades. E era difícil conseguir as coisas, então as pessoas se sentiam mais motivadas a participar presencialmente, porque se não fosse assim não acontecia.

Não tô escrevendo tudo isso pra ser “boomer”, pra dizer “tá tudo bem, vcs que reclamam demais”. Meu ponto na verdade é justamente o oposto. Acho que, pesando prós e contras, as coisas melhoraram de 99 pra cá. Professores (pelo menos alguns deles) são mais atentos a problemas de saúde mental.

Então, melhorou? Sim, melhorou. Mas tá bom? Não! Tá uma bosta! Porque por mais que as coisas possam ter melhorado, o mundo hoje em dia induz muito mais problemas de saúde mental, porque o neoliberalismo avançou muito, e o mundo piorou também. A gente olha o mundo hoje em dia e tem menos esperança no futuro do que tinha antes.

Tem as pressões da faculdade e/ou da pós, tem as contas a pagar, tem a incerteza de poder ter um futuro na profissão que escolheu, tem o mundo literalmente queimando porque um bando de velho filho da puta não quer parar de ganhar dinheiro, tem o avanço desumanizante do capitalismo, tem a ascensão do fascimo… Com essa enxurrada de notícia ruim, não é nenhuma surpresa que o psicológico de qualquer um fique abalado.

Então, eu vejo duas opções. A gente se rende e deixa o mundo seguir, ou a gente continua na briga, tentando achar maneiras de ajudar quem precisa. E nesse caso específico, cuidar da nossa própria saúde mental é fundamental. Então eu imploro a todos vocês: cuidem de si mesmos. Tomem um tempo pra respirar, vão dar um passeio, achem um parque, um museu, leiam um livro, esqueçam da faculdade, das outras pessoas, das disciplinas, do Jupiter, de tudo. Pensem em si mesmos. Apreciem a si mesmos, entendam o seu próprio valor intrínseco. O segundo passo é cuidar de quem precisa de cuidado. Ficar atento a quem precisa de ajuda, seja ela física ou psicológica. Às vezes é uma coisa besta, um salgado no turco resolve. Às vezes e pessoe tá com problema de bolsa. Às vezes elu só precisa se sentir ouvide mesmo, sentir que não está sozinhe no mundo.

Eu aprendi a duras penas a importância disso tudo. E sinceramente espero que ninguém nunca mais passe pelo que eu passei. Eu tive sorte; muites outres pessoes não tiveram.

Bom, é isso. Queria colocar meu depoimento aqui (adaptado a partir de uma mensagem que mandei em outro lugar), porque andei pensando muito nisso nos últimos dias.


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