Poucos dias atrás completei dois meses na Alemanha. Passado o impacto do primeiro mês, da parte mais crítica da adaptação e dos primeiros tropeços, a coisa agora começa a se estabilizar.
Finalmente me entendi com o sistema de blihetes de trem. É bastante inteligente, na verdade, já que o valor pago corresponde (mais ou menos) à distância viajada. Segundo uma conversa que tive com um conhecido em Frankfurt, há algum tempo atrás o passageiro comprava um bilhete válido por “n” estações, mas o sistema atual é mais prático e os custos não mudaram muito.
Uma coisa curiosa é que (pelo menos na região de Essen), as pessoas reclamam bastante dos trens, principalmente porque eles às vezes atrasam por até meia hora (ou mais).
Esse pessoal devia vistar São Paulo (e andar de trem). O que eles não percebem é que a malha ferroviária deles é imensa, e mesmo que um trem atrase, sempre há outras opções. Mais que isso, sempre há mensagens nas estações e trens quando há atraso. Ontem, por exemplo, meu trem atrasou por mais de meia hora. A cada cinco minutos o condutor avisava do atraso, pedia desculpas e avisava de trens de outras linhas que estavam indo na mesma direção e que poderiam servir como alternativa.
Quem já andou de trem em São Paulo certamente vai entender por quê isso é tão importante. Perdi as contas do número de vezes que o trem parou no meio do trajeto, sem aviso, debaixo do sol, e ficou ali parado, sem nenhum aviso para os passageiros – que, aliás, se espremem de um jeito quase obsceno. O movimento da hora do rush aqui não chega nem perto do caos da Praça da Sé.
À esquerda, a malha ferroviária de Essen. À direita, a de São Paulo. Não é uma comparação muito boa, afinal as duas figuras não estão em escala, e fica difícil comparar o tamanho real, número de estações e coisas assim. Então, pra fazer uma comparação numérica, olha a diferença entre o metrô em Essen e em São Paulo:
São Paulo | Essen | |
População | 12.000.000 | 580.000 |
Área | 1520 km² | 210 km² |
Tamanho da malha | 80 km | 75,5 km |
A grande diferença, é claro, é a população das duas cidades. São Paulo tem quase 20 vezes mais habitantes que Essen, e assim mesmo as duas malhas são comparáveis em tamanho. Acho que isso dá uma noção bem melhor do nível de atraso de São Paulo. Mesmo considerando as linhas de trem, que eu deixei de fora de propósito, a comparação não fica muito melhor, porque na melhor das hipóteses a malha de São Paulo chega a ser 5 vezes maior que a de Essen, mas ainda assim a proporção é assustadora.
Enfim… mudando de assunto. Afinal de contas, este não é um post sobre transporte público.
É incrível como a imersão ajuda a aprender uma língua estrangeira. Claro, aprender alemão não é como aprender espanhol – dois meses depois de chegar a Buenos Aires eu já falava tranquilamente o espanhol, mas as semelhanças entre ele e o português ajudou muito.
Já dá pra distinguir pelo menos uma parte do que as pessoas falam, mas ainda estou MUITO longe de ter qualquer fluência, muito menos de conseguir falar e me fazer entender. Pelo menos, já dá pra “me comunicar”. E isso considerando que eu tenho sido meio vagabundo, e não tenho estudado quase nada a não ser nas aulas de alemão. Mesmo assim, esta é provavelmente a fase mais difícil de aprender uma língua: dá pra entender algumas palavras no meio dos sons ininteligíveis que as pessoas emitem, e quase dá pra entender do que eles estão falando; mas só de maneira muito superficial, e por isso fica tudo muito nebuloso. Algumas palavras a gente já sabe o que significam, e outras a gente reconhece mas não lembra direito. Daí fica aquela bagunça: “ele tá falando do trem? Ou tá pedindo alguma coisa?”
O pior de tudo são os falsos cognatos, que são vários com o inglês, e isso atrapalha tudo. Sem falar de pronomes, preposições, artigos, tudo ainda meio misturado e ininteligível.
Mas eu sei que isso vai vir com o tempo. Do mesmo jeito que foi com outras línguas.
Passado o deslumbre inicial, a gente também começa a ver certas coisas que incomodam. Afinal, não dá pra generalizar. Aqui também tem gente mal educada, ignorante, mal intencionada…
Gente que fica te encarando no metrô como se você fosse um bicho de outro planeta, e olha pro coleguinha e faz piada, achando que você não tá entendendo.
Ou gente que empaca no meio do caminho no metrô e atrapalha quem tá andando.
Ou gente que quer te vender gato por lebre (sim, aqui também tem). Por exemplo, o sujeito que queria me empurrar um gorro de “lã” – que era feito de um monte de coisa, menos lã.
Eu queria ter algo mais interessante pra contar, mas por enquanto, ficamos por aqui.
Bis später.
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